O Governo de Schrödinger e suas crises desnecessárias
Crises evitáveis e a incompetência da comunicação que marcam o início do governo Lula 3
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2023 - Edição 021 - Nulla dies sine linea - Atualizado 11h40min
“Porque não há nada oculto, senão para ser revelado.
E nada escondido senão para ser trazido à luz.” (Marcos 4,22)
Enquanto Lula se preocupa com a Guerra da Ucrânia, o dólar como moeda global ou com a influência dos videogames na violência, seu governo enfrenta crises sucessivas, a maioria delas evitáveis se fossem cuidadas com mais atenção e sabedoria. O preço de tamanha negligência vai chegar e rápido.
A última trapalhada, talvez a maior delas em termos de repercussão interna, foi o vazamento de um vídeo pra lá de constrangedor do general Gonçalves Dias, agora ex-ministro-chefe do GSI, confraternizando calmamente com os vândalos invasores do Palácio do Planalto na Intentona Bolsonarista.
O 8 de janeiro de janeiro foi pensado, planejado, financiado, divulgado, incentivado e executado por bolsonaristas, mas Lula está dando um jeito de inverter a equação e se tornar culpado de algo que era a vítima preferencial. Ninguém em sã consciência imagina que um governo vá tramar um golpe de estado contra si próprio, mas nesses tempos de pós-verdade e fake news, um vídeo vale mais que mil desculpas.
A metade do país que não votou em Lula está dividida. A parte bolsonarista, especialmente a ala GTA (golpista, terraplanista e antivacina), nunca dará o braço a torcer e continuará a se agarrar a qualquer coisa para justificar seu apoio ao governo do seu duce. A outra parte, antipetista que votou em Bolsonaro, Tebet ou Ciro para evitar o governo petista, começa a ter dúvidas. E isso é o primeiro passo para inviabilizar o Lula 3, sem base sólida no Congresso e enfrentando uma crise econômica profunda.
Lula insiste em lidar com os problemas atuais da maneira com que fez em seus governos anteriores, contando com a prestimosa defesa dos áulicos de sempre (e alguns novos), mas sem entender o tamanho da má vontade que seus opositores na sociedade brasileira nutrem por ele. Como na série Chernobyl da HBO, Lula parece agir como o governo soviético da época, tentando esconder a crise enquanto o núcleo da usina vai derretendo o solo. Você sabe como isso termina.
Nos dois mandatos anteriores, Lula manteve a popularidade por alguns golpes de sorte, como a descoberta de petróleo na camada do pré-sal e o boom de commodities, além de uma blindagem poderosa dos principais meios de comunicação, mas nenhuma dessas condições se repete hoje. Some-se a isso a ideia de ser um “descondenado”, ex-presidiário solto pelo “sistema”, e está feito o samba do bolsonarista roxo.
Scott Addams cunhou a expressão “uma tela, dois filmes” para definir esses tempos estranhos em que duas pessoas podem, vendo os mesmos fatos, ter conclusões opostas. O mesmo fato é lido, nas hostes radicalizadas, não de maneira lógica e racional, mas apenas como uma peça de um quebra-cabeça ideológico autoindulgente que só se preocupa em se justificar.
Em 1935, o físico austríaco Erwin Schrödinger criou o famoso experimento mental para explicar o conceito de superposição de estados na mecânica quântica em que um gato, numa caixa, estaria “vivomorto” e a única maneira de medir o estado do bicho como vivo ou morto seria com uma intervenção do observador.
A política atual é assim, quântica ou líquida, como diria Zygmunt Bauman, com políticos “vivomortos” que estão vivos ou mortos dependendo do observador - e ainda nem entramos de cabeça no metaverso da Inteligência Artificial em que a própria definição de verdade será colocada em questão.
Lula é um político inteligente e esperto, mas seus 78 anos hoje não estão ajudando a que entenda onde se meteu ao querer governar o Brasil pela terceira vez. Em vez de um mandato consagrador, repleto de homenagens e confetes, trampolim para um lugar de honra na história por “salvar o Brasil do fascismo”, Lula tem um pepino escabroso em mãos e, neste ponto, é lícito duvidar se terá condições de completar seu terceiro termo.
Ainda há capital político para queimar nesta altura do campeonato, mas o fogo está se alastrando e consumindo tudo com velocidade espantosa. Ou Lula decifra os novos tempos ou será devorado por eles.
PS - Uma dica não solicitada e que será ignorada: contrate especialistas em gestão de crise, há excelentes no Brasil. Não diga que não avisei.
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Alexandre Borges
Analista Político @ Jovem Pan News
Twitter: https://twitter.com/alex_borges
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Lula é bandido! Era sabido…
Nao dê “dicas” para ele nao, Ale!
O peixe morre pela boca… #malditosejaobolsopetismo
Estava gostando do tunel do tempo, cadê? 🥰