Lula 100 dias: o contragolpe.
A vitória contra o Putsch de 8 de janeiro foi a mais dura prova de início de governo na história recente.
Rio de Janeiro, 11 de abril de 2023 - Edição 020 - Nulla dies sine linea - Atualizado 11h40min
Em 8 de janeiro de 2023, houve uma tentativa de golpe de estado no Brasil, um Putsch que vandalizou os três principais edifícios da república causando prejuízos milionários e um dano irreparável na alma nacional. Se ninguém disse isso ainda com todas as letras, está dito agora. Ter dado errado não muda a intenção dolosa dos criminosos envolvidos. A democracia brasileira escapou por um triz.
A apuração de tudo que aconteceu entre a primeira semana de novembro de 2022 e o oito de janeiro ainda está sendo feita por jornalistas investigativos, pesquisadores e historiadores, mas uma parte já foi revelada pelo meu querido amigo e ex-companheiro de emissora Caio Junqueira (veja neste vídeo). Tudo que pude investigar até hoje confirma o que ele descobriu.
Desde o resultado do segundo turno, uma fervorosa movimentação golpista se empenhou para viabilizar uma virada de mesa institucional para reverter o resultado das urnas, frustrada pela falta de apoio majoritário do alto comando militar. O famigerado decreto golpista, encontrado na casa do atual presidiário Anderson Torres, tem todos os elementos de uma tentativa farsante de dar um verniz legal ao coup d'état bolsonarista.
A preocupação com uma aparente legalidade é um dos pilares de um regime de caráter bonapartista, que guarda semelhanças com os governos de Napoleão Bonaparte, seu sobrinho Napoleão III na França e Otto von Bismark na Alemanha, entre outros.
Liderado por um ditador carismático, militarista e populista, que usurpa os poderes do legislativo e do judiciário, o bonapartismo se coloca acima dos conflitos de uma sociedade dividida, como um ente de razão superior que vai conduzir o país de forma apartidária e em nome do interesse maior da nação. Uma boa recriação ficcional de um regime como esse está no clássico de Mario Vargas Llosa “A Festa do Bode”, que reconta a trajetória de Rafael Trujillo, o “bode”, ditador dominicano que comandou o país caribenho por 31 anos.
No Brasil, deu tudo errado para os golpistas, mas a semente do mal foi plantada e ainda não houve sua total erradicação. O sentimento que animou muitos brasileiros contra a democracia e as suas instituições está hibernando ou vivo em grupos de WhatsApp. Ele está longe de ter morrido. A luta contra a intolerância antidemocrática mal começou.
Em 100 dias, Lula apresentou o arcabouço fiscal, retomou e reorganizou programas sociais, está refazendo as pontes queimadas nas relações internacionais, falou algumas besteiras, trabalhou exemplarmente com Tarcísio de Freitas pelo socorro às vítimas do dilúvio de proporções bíblicas no litoral paulista, mas nada se compara à vitória em 8 de janeiro, quando o contragolpe, aos trancos e barracos, estrangulou a serpente ditatorial. Sobrevivemos, por muito pouco.
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Alexandre Borges
Analista Político @ Jovem Pan News
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